sexta-feira, 25 de abril de 2008

O show deve continuar (All that jazz, Bob Fosse, 1979) - sem nota


O SHOW DEVE CONTINUAR (All that jazz), Bob Fosse

O comentário abaixo foi escrito para uma prova, cujo objetivo era falar sobre o filme sem citar diretamente o filme, o resultado:

Começando sua carreira como o de costume, o diretor desse filme costumava mendigar pequenas participações no teatro de sua cidade. E como cada semente rende um fruto, não demorou muito para que ele estivesse no controle de sua própria peça. E como sementes grandes geram frutos grandes, logo esse gênio já havia deixado a Broadway para trás, tendo como objetivo somente mais uma inédita ambição em sua vida: o Oscar.
Não foi com este filme que esse diretor conseguiu seu primeiro Oscar. Foi antes. Mas esse filme faturou o que talvez seja o maior e mais respeitado prêmio da industria cinematográfica. E não é difícil descobrir porque.
Um homem de meia idade, pai de uma filha é disputado por duas de suas ex-esposas. O detalhe mais importante, porém reside na profissão deste homem. Um diretor de filmes. E é aí que começa o grande show desse filme: a intenção de mostrar um lado podre do show business. Mas aqui não há o glamour nem fama, pois somos inseridos aos bastidores do mundo do entretenimento. “Acabamos de perder o público familiar”, é o que conclui um executivo em meio uma apresentação, sem dar qualquer sinal de estar tentando entender o que está sendo transmitido ali. Não, tudo o que importa é o dinheiro, o retorno, a segurança no investimento, enfim, ele está ali apenas para dar mais uma facada na arte.
Se os executivos funcionam como representações do sistema capitalista que tomou conta do mundo artístico, nosso pobre protagonista tem seus impulsos criativos frustrados pelo resultado da falta de credibilidade dos seus investidores, da crítica e até mesmo dos amigos mais próximos, que como ele percebe, não são amigos, apenas sanguessugas pra lá de falsas, que agem apenas por interesse, fato que fica claro em uma cena extremamente bem conduzida, na qual todos riem do roteiro escrito pelo protagonista, exceto sua própria ex-esposa, que como ele vem a descobrir, ficou sempre com ele, dando apoio para as boas decisões e tentando reconquistar a sua estima.
Esse filme brinca com os sentimentos e as escolhas das pessoas que (assim como o protagonista), de alguma maneira não tiveram autonomia suficiente para trilhar o caminho de fato desejado, e que se vêem em um mundo desconhecido, tendo como fim da linha apenas a surpresa desagradável de que tudo vivido até ali, não passava de pura perda de tempo, mas, aí já será tarde demais para voltar atrás e tentar passar mais tempo com aqueles que realmente (se) importam.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Paranoid Park



PARANOID PARK, Gus Van Sant

Seus pais estão se separando e algo em sua vida está se transformando, porém, Alex não sabe exatamente o que. Ele até gostaria de falar sobre isso com alguém, mas acha que seria egoísmo de sua parte, levando em consideração que o noticiário na televisão e os jornais estampam o sensacionalismo, incitando as pessoas a terem dor, a terem preocupações e a terem ódio. O mundo está em guerra, as pessoas estão se matando e os skatistas do Paranoid Park (aqueles sim sabem o que é sofrer de verdade) estão... Lá.
É a educação repressiva que impõe aos jovens a idéia errada de que é um fardo para eles também carregarem as guerras, fomes, viciados, privando-os de suas próprias enfermidades. A bagunça no universo jovem de Alex é tanta, que ele se isola, tranca-se dentro de si mesmo, dentro do Paranoid Park – o lugar para o qual ninguém está pronto e, em silêncio, fala.
Como conseqüência de suas visitas ao skate park, Alex se envolve em um acidente, causa a morte de um homem, um fato que se agrega à sua teia de problemas, e aí, mais confusão, perturbação e silêncio fazem parte de sua rotina. Antes, ele não conversava para não se passar por egoísta (entrando num jogo de aparências e comportamento aqui, já que na verdade ele não se importa com um mundo que não seja o seu), mas agora, ele não se abre, por ter feito algo errado.
Paranoid Park existe em função de uma carta que Alex escreve para a amiga, apenas como pretexto para tirar de cima dos ombros o peso de sua atitude imprudente no acidente. Mas curiosamente, na carta – no filme – a morte do homem assume o segundo plano da narrativa. O lápis, a peça que assume o papel do link que conecta Alex ao mundo dos que se exprimem, não consegue evitar o desabafo e, ao mundo, Alex conta sobre seus problemas em relação à família, a situação delicada em que vivem os seus pais, seu relacionamento plástico e isolado com os amigos e a namorada. No final, o seu grito vai ao fogo e o jovem volta às suas origens oprimidas, unindo a sua voz com a de outros, que se expressam, não com a boca, mas com atitudes, por horas infantis, outras rebeldes, mas acima de tudo, livres.