sexta-feira, 31 de julho de 2009

Os donos da noite


OS DONOS DA NOITE (We own the night), James Gray

Apesar de ter feito em 2000 o filme Caminho sem volta, com um grupo de atores que deixaria qualquer cineasta americano se mordendo de inveja, James Gray ainda estava oculto nas sombras do anonimato quando, em 2007, lançou aos cinemas Os donos da noite, um dos poucos filmes americanos de ação a ter destaque em Cannes.

O filme se concentra em lados aparentemente opostos de uma mesma família: Bobby trabalha para uma poderosa figura da região, um russo chamado Buzhayev, gerenciando uma boate; já seu irmão Joe, é um policial de destaque na força da LAPD. A família acomodou-se com a divisão, que existe principalmente em decorrência de Bobby não ter seguido a profissão do pai, mas será forçada a se unir em uma trama onde a polícia busca apreender um importante membro da máfia russa.

Não é preciso se prolongar muito. Esse é um filme sobre uma família danificada, obrigada a se unir em meio a uma dificuldade, mesmo que não haja, na verdade, tanta comunhão assim. O restante no filme é enfeite e permanece à sombra dessa trama maior. O filme é lindo não apenas pela tensão proporcionada por um conto policial inteligente, que se caminha para vários outros sub-gêneros, mas principalmente pela construção e desenvolvimento irretocáveis de personagens sensíveis e empáticos. É lindo ver James Gray contra a corrente, criando um filme sobre policiais com uma conduta correta e perssoas com relacionamentos humanos e verdadeiros.

Os donos da noite é um filme sincero de um cineasta irretocável, indiscutivelmente constante com a temática de sua filmografia e que trata, acima de qualquer outra coisa, sobre os sacrifícios exigidos pela vida para que uma geração de uma determinada família, não se perca.

"- Eu te amo.
- ... do filho e do espírito santo...
- Eu te amo também.
- Amém."

quinta-feira, 30 de julho de 2009

O sopro no coração


O SOPRO NO CORAÇÃO (Le souffle au coeur), Louis Malle

O Sopro no coração é um polêmico trabalho multi-facetado do cineasta francês Louis Malle. Ambientado em 1954 na cidade de Djon, o filme possui aspectos fundamentalmente comportamentais, porém, abre espaço para nuances sociais, que inclusive, impulsiona as características de comportamento dentro da história.

O título faz referência a uma terminologia da doença contraída por Leurent, protagonista do filme, mas é natural que esse distúrbio é apenas uma forma de se caracterizar um aspecto moral do personagem: no auge da adolescência, Laurent começa, através da influência dos irmãos mais velhos, a descobrir "a graça e a perdição da vida sexual", mas, acima disso, ele nutre um forte e inusitado desejo pela própria mãe, a mais-que-gostosa Lea Massari. Esse desejo é sutilmente desenvolvido ao longo do filme, como uma bomba a explodir, com a construção dramática feita de forma poderosa e consistente, explodindo no final com uma cena de choque não apenas gráfico, mas também moral.

O sopro no coração é uma onde de novidade, peversão e malícia, que se encontram ao momento da vida de Laurent e que motiva experimentos, descobertas e crescimento pessoal para o garoto. O maior mérito do filme é passear, com uma certa inocência, por esses encontros - a criança e jovem dentro de um só corpo, um contraste bem nítido durante todo o filme, como nas cenas de abertura, onde ele exerce a boa e velha molecagem e a cena onde ele 'conquista' uma das amigas do irmão. É essa consistência nas intenções e a clareza no alvo que tornam o filme apaixonante.

Ao fundo da vida de Laurent está uma França imperialista, onde mesmo numa cidade pequena como Djon (interior francês), os ventos que desencadearam a mais revolucionária mudança comportamental do século XX (os anos 50) irradiavam no coração dos cidadãos. É um outro sopro, um político, que, embalado pela primorosa melodia de Charlie Parker, abre espaço para as novidades do mundo moderno. O jazz, a curtição, a liberdade familiar e sexual estabelecem novos paradigmas e limites, que abrem espaço para o acontecer da história.

Não haveria momento mais oportuno, do ponto de vista social, para ambientar a história do que essa década, o que termina por evidenciar a característa multi-facetada já mencionada como uma das intenções mais claras de Malle ao filmar sua obra. O sopro no coração é, enfim, uma história humana, narrada com uma pureza sutil com toques rápidos de crítica política, social e religiosa - uma combinação explosiva e surpreendentemente eficiente.

texto do Kevin mlke virgem sobre o filme