quinta-feira, 30 de julho de 2009

O sopro no coração


O SOPRO NO CORAÇÃO (Le souffle au coeur), Louis Malle

O Sopro no coração é um polêmico trabalho multi-facetado do cineasta francês Louis Malle. Ambientado em 1954 na cidade de Djon, o filme possui aspectos fundamentalmente comportamentais, porém, abre espaço para nuances sociais, que inclusive, impulsiona as características de comportamento dentro da história.

O título faz referência a uma terminologia da doença contraída por Leurent, protagonista do filme, mas é natural que esse distúrbio é apenas uma forma de se caracterizar um aspecto moral do personagem: no auge da adolescência, Laurent começa, através da influência dos irmãos mais velhos, a descobrir "a graça e a perdição da vida sexual", mas, acima disso, ele nutre um forte e inusitado desejo pela própria mãe, a mais-que-gostosa Lea Massari. Esse desejo é sutilmente desenvolvido ao longo do filme, como uma bomba a explodir, com a construção dramática feita de forma poderosa e consistente, explodindo no final com uma cena de choque não apenas gráfico, mas também moral.

O sopro no coração é uma onde de novidade, peversão e malícia, que se encontram ao momento da vida de Laurent e que motiva experimentos, descobertas e crescimento pessoal para o garoto. O maior mérito do filme é passear, com uma certa inocência, por esses encontros - a criança e jovem dentro de um só corpo, um contraste bem nítido durante todo o filme, como nas cenas de abertura, onde ele exerce a boa e velha molecagem e a cena onde ele 'conquista' uma das amigas do irmão. É essa consistência nas intenções e a clareza no alvo que tornam o filme apaixonante.

Ao fundo da vida de Laurent está uma França imperialista, onde mesmo numa cidade pequena como Djon (interior francês), os ventos que desencadearam a mais revolucionária mudança comportamental do século XX (os anos 50) irradiavam no coração dos cidadãos. É um outro sopro, um político, que, embalado pela primorosa melodia de Charlie Parker, abre espaço para as novidades do mundo moderno. O jazz, a curtição, a liberdade familiar e sexual estabelecem novos paradigmas e limites, que abrem espaço para o acontecer da história.

Não haveria momento mais oportuno, do ponto de vista social, para ambientar a história do que essa década, o que termina por evidenciar a característa multi-facetada já mencionada como uma das intenções mais claras de Malle ao filmar sua obra. O sopro no coração é, enfim, uma história humana, narrada com uma pureza sutil com toques rápidos de crítica política, social e religiosa - uma combinação explosiva e surpreendentemente eficiente.

texto do Kevin mlke virgem sobre o filme

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