sábado, 2 de fevereiro de 2008

Saneamento básico, o filme



Saneamento básico, o filme (Jorge Furtado, 2007) - 4,5/5


Não é a primeira vez que vejo Jorge Furtado fazer uso de metalinguagem. Em 'O homem que copiava', o diretor já homenageava o cinema, se inspirando em Hitchcock e em Kieslowski (e para por aí, porque eu não me lembro mais de muita coisa, afinal, fazem mais de dois anos desde a última assistida). Mas agora, em Saneamento básico, o filme, o diretor estrapola. Agora ele não apenas insere referências - por mais relevantes à trama que elas sejam - sobre filmes, mas fala sobre o cinema, sobre o fazer cinema, sobre quem está fazendo e vendo cinema.
Os diálogos precisos como "quem ia querer ver um filme de saneamento básico" (pulei nessa hora) são apenas o começo. Numa cidade do interior de Porto Alegre (ou Paraná, sei lá), os moradores se unem para exigirem da prefeitura a construção de uma fossa, para resolver o problema de mau cheiro da região. Como não havia verba disponível para tal fim, os moradores recorrem ao jeito brasileiro de driblar as regras, fazendo um filme sobre um monstro da fossa - ver o filme -, pois havia verba para ser destinada à realização de um vídeo.
Quando quatro pessoas que são incapazes de definir corretamente o termo 'ficção' pegam em uma câmera para realizar o tal vídeo, como desculpa para usar o dinheiro na construção que eles necessitam, o objetivo do filme começa a ficar mais claro. Há quem interprete o filme de Furtado como uma crítica aos filmes b de ficção científica, mas eu estou bem longe disso. Primeiro porque pra mim, não há crítica, há documentação. Segundo os pensadores da nouvelle vague, a ideologia era 'câmera na mão e idéia na cabeça'. Segundo os mesmos pensadores, o movimento ia contra o conservadorismo no cinema que, para eles (diretores da nova onda), estava em decadência. Pregavam a idéia de que QUALQUER UM pode fazer um filme. Qualquer um pode inclusive fazer um filme muito melhor do que o da "velha onda". Em Saneamento básico, o bando de vacilões que interpretaram ficção como sendo um filme de monstro criaram uma obra completamente trash e tenebrosamente mal atuada, mas ninguém pode discordar de duas coisas: houve quem gostasse. Desde o personagem suspeito do Lázaro Ramos até a criançada da escola, os aplausos e até as lágrimas não foram poupados. E segundo, aquela cois, filme foi feito com paixão. Ruim - na minha opinião -, mas houve dedicação. E isso é um mérito. O abrangente e o subjetivo, que salvam aqueles 10 minutos mal filmados da clandestinidade estão presentes em todos as obras, em todo o cinema, e os filmes estão talvez diretamente relacionado ao momento, que varia, assim como varia de pessoa para pessoa. Muita gente não gostou, muita gente achou apenas interessante, legal. Mas eu fui tocado por esse filme imensamente simples, tocado por suas idéias, o seu humor (ri pra caralho, ok), a sua decupagem. Posso até estar enganado quanto ao objetivo, mas foi assim que eu me senti. Pra falar a verdade, acho que até estou começando a gostar dO Monstro da Fossa.

Trailer do filme:

Nenhum comentário:

Postar um comentário